Início Ásia Japão Quioto: protocolo completo para visita de dois dias

Quioto: protocolo completo para visita de dois dias

0
Quioto: protocolo completo para visita de dois dias

quioto

Não foi difícil escolher Quioto como destino prioritário na minha curta viagem ao Japão. Capital do país durante séculos, Quioto acumulou uma riqueza imensa que se reflecte nas dezenas de templos budistas que persistem no sopé das encostas montanhosas que rodeiam a cidade.

Inscritos na lista de património da Humanidade estão 17 “Monumentos Históricos da Antiga Quioto”, o que é um bom indicador do que espera o visitante. Apesar disso, fica de Quioto muito mais do que o património. Ficam as ruas apertadas e apinhadas de gente, as paredes de madeira das casas típicas, as Gueixas que aparecem ao virar da esquina.

Passei três noites na cidade depois duma subida ao sagrado monte Koya. O primeiro dia foi dedicado à zona norte onde se encontram os mais belos templos da cidade e a floresta de bambu. Depois de um dia em Nara, o segundo dia em Quioto passei-o pela zona leste onde, para além dos templos, se encontram alguns dos bairros mais tradicionais.

Primeiro dia em Quioto: do castelo aos templos do Norte da cidade

Templo Nishi Hongan-ji

O meu primeiro dia em Quioto começou bem cedo. Seriam umas 7 da manhã quando saí do hostel. A ideia era aproveitar ao máximo o maravilhoso dia de sol que se adivinhava. Ainda sem pequeno almoço comecei com uma passagem pelo templo budista Nishi Hongan-ji, ali bem próximo de mim.

O templo é riquíssimo e muito moderno. Bem diferente dos restantes. No interior dos dois edifícios gémeos há cadeiras, ecrãs gigantes e altares com muito ouro.

Entrada no templo Nishi Hongan-ji em Quioto
Entrada no templo Nishi Hongan-ji em Quioto
Altar no templo de Nishi Hongan em Quioto
Altar no templo de Nishi Hongan em Quioto

Algumas zonas visitáveis do mosteiro com exposições e museus estavam ainda fechadas. Pensava voltar mais tarde, o que acabou por não acontecer. Aproveitei para tomar o pequeno almoço num supermercado da cadeia Lawson.

Estas lojas, assim como o 7Eleven ou o Family Mart encontram-se por todo o lado no Japão e são óptimos locais para tomar uma refeição económica. Há sempre comida pronta, dá para a aquecer e muitas delas têm mesas e cadeiras para comer.

Castelo Nijo-jo

Depois do pequeno almoço caminhei ainda por um quarteirão até apanhar um autocarro em direcção ao castelo Nijo-jo. Assim, por 230 Yen venci em poucos minutos os cerca de 2 quilómetros que me separavam do castelo.

Construído inicialmente no século XVII, para além das grandes muralhas que rodeiam o complexo, este é um castelo bem diferente do que estamos habituados a ver na Europa.

No interior do recinto, bem protegido, ficam os aposentos reais, com belos edifícios de madeira. O mais curioso é o chão, que possui um ancestral sistema em que ao caminhar faz o soalho guinchar. Conseguia-se assim que ninguém pudesse andar em segredo pelos corredores do palácio. Mesmo descalço ou em meias, como se tem de fazer a visita, o peso dos visitantes é o suficiente para activar a melodia.

Vista do castelo Nijo-jo do topo da muralha
Vista do castelo Nijo-jo do topo da muralha

Kinkaku-ji, o templo dourado

O autocarro pára a poucos metros da entrada do jardim que rodeia o templo. O caminho até à bilheteira é ladeado por um jardim coberto de musgo verde e árvores com tons outonais. Em troca dos 400 Yen que custa a entrada dão-me o mais fabuloso bilhete que recebi até hoje. Escrito apenas com grandes caracteres japoneses, faz lembrar as sortes que vendem nos templos. Infelizmente, não percebo o seu significado. Percebo sim o quão ridículo é em Portugal darem um talão de supermercado na mesma situação.

A meteorologia colabora e os raios de Sol reflectem-se alegremente no ouro que reveste o templo. As águas do lago espelham toda esta beleza, duplicando-a.

Kinkaku-ji, o templo dourado em Quioto, Japão
Kinkaku-ji, o templo dourado em Quioto, Japão

Infelizmente, o espaço de onde se consegue ter esta vista digna dos deuses é pequeno demais para tanta gente. Os visitantes adensam-se. Aqui deixa de haver a organização a que o Japão me vinha a habituar. Não há filas ordenadas. Todos lutam pela melhor fotografia.

Do espaço em redor, pouco mais há de monumental. Como se fosse necessário. O templo dourado tudo ofusca. Orações, preces, sortes, lojas de recordações, de comidas e bebidas conduzem-nos à saída.

Embora parta logo ali o autocarro 12 em direcção ao templo de Ryōan-ji, decido caminhar. É cerca de um quilómetro e meio, quase sempre a descer. Uma caminhada interessante para conhecer um pouco mais da cidade e da vida dos japoneses.

Ryōan-ji, o templo do jardim Zen

Depois de ter passado um dia no monte Koya, o jardim do templo de Ryoan-ji já não me impressiona como os primeiros que vi. Aqui, num pequeno pátio vedado por um muro de areia, está um dos mais simples e belos jardins Zen do Japão.

Com 25 metros de comprimento por 10 de largura, este jardim contém 15 rochas dispostas sobre areia penteado com um ancinho. Apenas um pouco de musgo em redor dos grupos de rochas dá um pouco de verde ao conjunto. Para além deste magnífico jardim, bem diferente o que um europeu está habituado, o resto não surpreende.

jardim-zen-ryoanji-quioto

Ninna-ji

Já no templo de Ninna-ji encontro dos mais belos jardins do Japão. Vou novamente a pé por cerca de um quilómetro. Aproveito para me embrenhar ainda mais nas zonas residências. Nas suas ruas estreitas e incrivelmente limpas, reina a calma. Raramente se encontra alguém. Os carros são raros e de feições caricatas. O pouco espaço disponível levou à proliferação dos pequenos mono-volumes, de ângulos rectos que encaixam milimétricamente nas garagens.

jardim-ninaji-2-quioto

À chegada ao templo repete-se o ritual de descalçar as sapatilhas, procurar uns chinelos suficientemente grandes para os meus pés e, à falta destes, seguir a visita em meias. Nada de anormal.

Os corredores levam-me pelo exterior a descobrir as várias salas fechadas com as portas de correr em papel. Do outro lado, encantam-me os jardins, onde convivem harmoniosamente o verde do musgo, as rochas, a areia penteada e o vermelho das folhas de outono.

jardim-ninaji-quioto

O pagode de cinco pisos destaca-se sobre o horizonte. Próximo deste, há um campo que pode passar despercebido nestes dias de Outono. Naquelas árvores que deixam agora cair as últimas folhas, começam já a aparecer os botões que vão desabrochar na Primavera: a época das sakuras.

Talvez por ser sábado, os visitantes são convidados a conhecer o estaleiro das obras de restauro de um dos templos. De capacete na cabeça, subo pelos andaimes até à cobertura do templo. Em alguns ateliers, os visitantes podem mesmo experimentar as técnicas tradicionais de construção.

Tenryū-ji e a floresta de bambu

Depois de almoçar num pequeno restaurante familiar à saída do templo de Ninna-ji desci até à estação de comboio de Omuroninnaji que fica logo ali a 200 metros. Os pequenos comboios pertencem a uma companhia que não a JR pelo que não daria para usar o JR Pass, mesmo que o tivesse. A meio da viagem tenho de trocar de comboio. Uma troca que seria rápida, mas como demoro um pouco a descobrir o sentido correcto, acabo por ter de esperar uns 15 minutos pelo comboio seguinte.

lagono templo de Tenryū-ji em Quioto
Bonito lago junto ao templo de Tenryū-ji em Quioto

A estação de Arashiyama está apinhada de gente e em seu redor decorre um mercado. No templo de Tenryū-ji há igualmente muita gente e, para regalo dos olhos, muitas raparigas vestem o tradicional e colorido kimono. Embora muito bonito, o que me trouxe aqui não foi o templo. Na verdade, nem nele entrei.

Saindo do recinto entramos num dos mais belos cenários naturais do Japão: a floresta de bambu.

kimono-bambu-quioto
Raparigas usando o tradicional Kimono na floresta de bambú

bamboo-quioto-2

bamboo-quioto-1

Segundo dia em Quioto: pela encosta oriental

O segundo dia em Quioto começou bem cedo e dirigi-me às encostas a Este do centro da cidade, onde se encontram alguns templos bastante interessantes, por entre as ruelas típicas da cidade.

Pelo caminho fui-me cruzando com as crianças que se dirigiam para a escola uniformizadas a rigor. A temperatura de início de Inverno convidava a vestir um bom casaco, mas por aqui a farda é religiosamente respeitada e as crianças nada mais vestem que a farda, de calções.

Pelas ruas das zonas residenciais respira-se uma calma inigualável. Uns a pé, outros de bicicleta, a maioria de transportes públicos. As buzinas dos carros já devem mesmo ter avariado, tão pouca é a sua utilização.

Rua de Quioto ao amanhecer

Chion-in

Tendo eu chegado aqui cedo demais, acabei por passar um bocado na parte acessível deste templo, subindo ao cemitério e passando pelo incrivelmente grande sino.

Depois voltei a entrar e pagar o bilhete para visitar os restantes jardins. A verdade é que não encontrei nada de excepcional, quando comparado com o que vi no dia anterior.

sino-chionin-quioto

templo-chionin-quioto

jardim-chionin-quioto

 

Ninen-zaka, Sannen-zaka e o encontro com as Gueixas

Quioto é uma cidade que pede para ser visitada com calma, sem se deixar condicionar por mapas ou guias. Embora com alguns pontos bem definidos no meu roteiro para este dia, deixei-me guiar pelo instinto e fui rumando a Sul.

Quando me dirigia em direcção ao templo de Kiyomizu-dera acabei por encontrar as ruas mais bonitas que desta viagem ao Japão.

ruas-quioto-japao

Ao seguir por uma rua estreita, onde quase ninguém passava eis que, ao virar da esquina me deparei com três gueixas que por ali passavam. Fiquei quase sem reacção perante tão belo cenário. Já planeava à noite ir até ao bairro de Gion, local muito popular para as avistar. Aqui, em plena luz do dia foi completa surpresa.

Três Gueixas nas ruas de Quioto, Japão
Três Gueixas nas ruas de Quioto, Japão

As ruas íngremes, percorridas por milhares de pessoas são ladeadas por lojas que oferecem deliciosos petiscos japoneses, assim como recordações. As telhas negras que cobrem os edifícios, as mulheres envergando orgulhosamente os tradicionais kimonos e as folhas de cores outonais dão uma beleza ímpar a esta caminhada que me leva até ao templo de Kiyomizu-dera.

comida-rua-quioto-japao

Kiyomizu-dera

Chega-se por fim às portas de um dos mais impressionantes templos da cidade. O vermelho cobre a madeira das portas, pagodes e pequenos templos que nos conduzem montanha acima até ao templo principal. Aos poucos vai-se começando a conseguir observar a cidade por cima da copa das árvores.

templo-kiomizudera-quioto-3

templo-kiomizudera-quioto-2

O grande templo de Kiyomizu-dera é construído unicamente em madeira. Não tem a pintura vermelha, nem os telhados de barro, nem pregos! Tudo foi erguido com recurso a encaixes ou cavilhas de madeira, incluindo a estrutura de pilares com 13 metros de altura em que este se apoia. Por todo o lado há sortes para serem obtidas por quem aqui peregrina. Seja na saúde, nos estudos ou no amor.

Kiyomizu-dera é um local de excelência para observar as cores de Outono em Quioto, embora neste dia de Novembro a coloração ainda estivesse um pouco atrasada.

templo-kiomizudera-quioto-1

Finda a visita desci a encosta em direcção ao rio e às linhas de comboio, não sem antes fazer uma pausa para almoçar uma deliciosa taça de ramen acompanhado por umas peças de sushi e uma pequena garrafa de saquê.

almoco-quioto-sushi
Almoço de Ramen e Sushi em Quioto

Fushimi Inari-taisha, até ao topo

Fushimi Inari-taisha
Entrada nos templos de Fushimi Inari-taisha em Quioto

De comboio, em poucos minutos se chega do centro de Quioto à entrada do templo de Fushimi Inari. Este é um dos templos mais conhecidos de Quioto e até do Japão. Inari é o Deus xintoísta da fertilidade, do arroz e dos negócios.

Foram esses negócios que patrocinaram os mais de dez milhares de Torii, os tradicionais portões que assinalam a entrada dos santuários xintoístas.

Conseguir uma fotografia sem ninguém nos primeiros metros é quase impossível. Segundo as estatísticas, pelos dias do Ano Novo passam por aqui quase 1 milhão de pessoas por dia. No resto do ano, um pouco menos.

Casal de japoneses usando roupas típicas no meio dos Torii
Casal de japoneses usando roupas típicas no meio dos Torii
Torii, aqui numa zona pouco movimentada da colina de Inari
Torii, aqui numa zona pouco movimentada da colina de Inari
Um dos vários altares na colina de Inari, Quioto
Um dos vários altares na colina de Inari, Quioto

Não tendo grandes planos para o resto da tarde decidi percorrer todo o percurso que sobe ao topo da montanha. Com o aumentar da cota a concentração de Torii vai diminuindo e a de visitantes também. O altar do topo da colina não é especialmente melhor do que qualquer um dos outros que se encontram pelo caminho. O regresso faz-se por outro caminho, já que o percursos é circular. As enormes árvores não deixam ter grandes vistas sobre a cidade, excepto de um local onde se junta muita gente para ver o pôr-do-sol.
Retenho-me também um pouco por lá a apreciar a lindíssima vista que se tem sobre a cidade de Quioto no final deste último dia por ali.

Por do Sol sobre a cidade de Quioto na colina de Inari
Por do Sol sobre a cidade de Quioto na colina de Inari

Em busca das Gueixas em Gion

Mesmo com a observação de Gueixas já riscada da checklist de coisas a não perder em Quioto, decidi juntar-me a alguns amigos portugueses em busca destas ao final do dia. No bairro de Gion, em redor da rua Hanamikoji-Dori, são muitos os turistas que se juntam na esperança de as vislumbrar.

Tarefa difícil esta que mais parece um safari humano. As Gueixas chegam de táxis, que pelas ruelas despistam os turistas e, rapidamente as deixam junto à porta do locais onde estas se apresentam. A hora ideal é pelas 18 ou 19, mas não vá com grandes expectativas.

A poucas horas de apanhar um autocarro nocturno para Tóquio acabámos o dia a jantar num dos milhares de restaurantes que se encontram na outra margem do rio Kamo. Parti assim com a sensação de ser cedo demais. Ficou uma enorme vontade de voltar um dia, para me perder por estas ruas onde vivem as pessoas da terra e não apenas as zonas mais turísticas que visitei.

Transportes em Quioto

Cidade plana, de planta alinhada com a rosa dos ventos, Quioto é uma cidade de fácil orientação.

O meio de transporte preferencial para se deslocar na cidade é o autocarro. O preço da maioria das linhas é fixo, independentemente do número de paragens que percorra. Quando visitei custavam 230Yen. Como me desloquei preferencialmente a pé, usei o cartão SUICA que havia comprado em Tóquio e que também aqui dá para usar em todos os transportes.

Se estiver a pensar fazer mais do que 2 viagens de autocarro num dia, compensa comprar o cartão diário, que permite viagens ilimitadas durante um dia, por 500Yen.

Onde dormir

A oferta de alojamento na cidade de Quioto é enorme e variada. Tanto pode ficar nas tradicionais Ryokan, com todo o luxo e tradição japonesa, como num hotel normal, num hotel cápsula ou até num económico hostel.

Eu optei pela última, embora na verdade fosse um hostel um pouco diferente do normal. O Kyoto Guesthouse Lantern é um hostel localizado bem no centro da cidade, a uns 10 minutos a pé da estação central. Para além dos tradicionais dormitórios com beliches, este tem a particularidade de oferecer um com as tradicionais camas no chão de tatami. Embora ja o tivesse experimentado no monte Koya, foi uma forma diferente de dormir. Em Roma sê romano, no Japão, sê japonês!

Siga esta ligação para encontrar e reservar este ou outro hotel em Quioto.

Quarto tradicional japonês em hostel de Quioto