7 Place

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O que é um 7 Place?

O sept-place é provavelmente o mais confortável, rápido e seguro meio de transporte público para viajar pela África Ocidental. Na sua essência são carrinhas Peugeot 504 ou 505, fabricadas na Nigéria ou importadas em segunda mão da Europa. São também conhecidas por cinq-cent-quatre, Peugeot Taxi ou brake.

Apesar de construídas para transportar o condutor mais sete passageiros (daí 7 place), em alguns países este limite não é observado (por exemplo na Mauritânia e Mali) sendo transportados nove passageiros, mudando também o nome para 9 place. Segundo o Lonely Planet, na Guiné (Conakry) chegam mesmo a ser transportados 12 passageiros.

Estado de conservação/segurança

Pelos padrões de segurança rodoviária europeus estes veículos seriam, no mínimo, considerados muito perigosos. Para África, é provavelmente o melhor que há!

Por exemplo, nos dois em que viajei entre Bissau e Dakar, em nenhum deles o conta quilómetros funcionava (tinha parado pelos 200 e poucos mil quilómetros, quem sabe à muito tempo atrás!) nem o velocímetro, os cintos de segurança eram presos no travão de mão (que obviamente não funcionava) só para enganar a policia, num as portas abriam só por dentro, no outro só por fora (quando se queria sair abria-se o vidro). A juntar a tudo isto, nenhum deles tinha motor de arranque a funcionar correctamente; quando se queria ligar era necessário uma pequena “martelada” com uma qualquer ferramenta improvisada. Pior que tudo isto, num deles o pedal do travão era apenas mais um adorno! Quando se ia a grande velocidade e ele travava (a fundo) ouvia-se um som que parecia que o veículo se ia desfazer, e apenas se abrandava ligeiramente!

Para compensar todos este problemas, o conforto nestes veículos está num nível superior! Bancos com meio metro de esponja macia e amortecedores moles são um convite ao sono, que só é quebrado pelo sobressalto do perigo e a beleza da paisagem.

Condutores

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Lá fora, o nosso condutor na Gâmbia, enquanto esperamos pelo Ferry

Acerca dos condutores ocorrem-me duas palavras: heróis e doidos! Velocidades vertiginosas em algumas das piores estradas do mundo, com carros normalmente sobre lotados e em condições de segurança duvidosa, que ainda assim chegam (quase) sempre ao destino, num mundo onde uma amolgadela ou um espelho retrovisor arrancado à saída do apertado ferry se resolve com um “pardon”!

Na minha viagem, a juntar à habitual pressa, estava o facto de ser véspera do Tabaski. Imagino que equivalha a um europeu estar atrasado para a ceia de Natal, e ainda ter de comprar pelo caminho o peru (neste caso o carneiro). Dos constantes episódios caricatos destaco um espelho retrovisor arrancado à saída dum ferry e outro arrancado por uma mota em ultrapassagem, uma ultrapassagem de ficar com o coração nas mãos (vinha um camião de frente), a condução pelo meio dos bairros dos arredores de Dakar para fugir ao transito e as passagens no semáforo vermelho com a policia a apitar, uma passagem pelas apertadas filas de transito onde uma moça num taxi se resolveu com um “pardon, pardon!”, etc, etc…… Enfim, uma fantástica experiência pouco recomendada a cardíacos!

Onde/Como apanhar o sept-place

Dum modo geral, em todas as localidades da África Ocidental existe um local chamado “Gare-Routier” (nos paises francófonos), de onde chegam e partem os transportes públicos. Normalmente não é mais que um parque de terra batida onde as pessoas se juntam à espera. Nas grandes cidades como por exemplo Dakar e Ziguinchor no Senegal existe um parque alcatroado, com telheiros para sombra, uma bomba de combustível e uma indispensável recauchutagem. Este parques são semelhantes aos parques de estacionamento europeus.

No caso concreto de Bissau, os sept-place partem da “Paragem”, que fica ao lado da Av. 14 Novembro (que liga a cidade ao aeroporto), a cerca de 5km do centro de Bissau. Para encontrar o local facilmente entre num taxi e peça para ir prá paragem. São cerca de 1000CFA ou 100CFA se for de Toca-Toca.

Há um aspecto fundamental a ter em conta: os transportes públicos em África só partem quando estão cheios, o que pode implicar longas horas de espera. Ainda assim, convém estar na Gare Routier logo às primeira horas da manhã. Em principio haverá logo passageiros para encher um.

Caso queira acelerar o processo e/ou viajar mais confortavelmente, podem pagar-se os lugares livres, ou até mesmo reservar todos os lugares da viatura. Neste caso, o preço total será a soma dos lugares todos, e possivelmente mais um acréscimo pela bagagem que os passageiros poderiam levar.

Foi o que fizemos na viagem Bissau -Dakar. Como a viagem é feita por duas partes (Bissau – Ziguinchor e Ziguinchor – Dakar), o primeiro foi negociado por um amigo nosso de Bissau (preto) o que facilitou muito no preço. Ainda conseguimos mais barato que a soma de todos os lugares. Já em Ziguinchor, também devido ás nossas dificuldades com o francês, conseguimos um preço um pouco superior à soma e ainda tivemos de levar uma passageira extra.

Tarifas de Referência:

Bissau – Ziguinchor: 6000CFA

Ziginchor – Dakar: 7500CFA

Bissau – Gabú: 2700CFA

(preços retirados do Lonely Planet. Os dois primeiro foram comprovados por mim em 2006 e estavam correctos)

Curiosidade:

Antes de se fazerem à estrada, os condutores molham os pneus com uma pequena borrifadela de água. Também não sei para quê…