Grandes Viajantes

Viajar faz parte do homem. E se hoje viajar é algo vulgar, outrora os homens que dobravam novas fronteiras não eram menos que verdadeiros heróis.

Esta página é por isso dedicada a esses viajantes invulgares com quem eu tive a honra de me encontrar e junto dos quais aproveito sempre para tirar uma foto e conhecer um pouco da sua vida. A maioria deles viajantes do passado, mas também do presente, porque ainda os há.

Fernão Mendes Pinto

Estátua de Fernão Mendes Pinto em Almada
Estátua de Fernão Mendes Pinto em Almada

“Quando às vezes ponho diante dos olhos os muitos e grandes trabalhos e infortúnios que por mim passaram, começados no princípio da minha primeira idade e continuados pela maior parte e melhor tempo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da ventura que parece que tomou por particular tenção e empresa sua perseguir-me e maltratar-me, como isso houvera de ser matéria de grande nome e de grande glória; porque vejo que, não contente de me pôr na minha Pátria logo no começo da minha mocidade, em tal estado que nela vivi sempre em misérias e em pobreza, e não sem alguns sobressaltos e perigos da vida, me quis também levar às partes da Índia onde, em lugar do remédio que eu ia buscar a elas, me foram crescendo com a idade os trabalhos e os perigos. Mas por outro lado, quando vejo que do meio de todos estes perigos e trabalhos me quis Deus tirar sempre a salvo e pôr-me em segurança, acho que não tenho tanta razão de me queixar de todos os males passados, quanta tenho de lhe dar graças por este só bem presente, pois me quis conservar a vida para que eu pudesse fazer esta rude e tosca escritura que por herança deixo a meus filhos (porque só para eles é minha intenção escrevê-la) para que eles vejam nela estes meus trabalhos e perigos da vida que passei no decurso de vinte e um anos, em que fui treze vezes cativo e dezassete vendido, nas partes da Índia, Etiópia, Arábia Feliz, China, Tartária, Macáçar, Samatra e outras províncias daquele oriental arquipélago dos confins da Ásia, a que os escritores chins, siameses, guéus, léquios, chamam em suas geografias a pestana do mundo (…)”

Muitas vezes injuriosamente apelidado de Fernão Mendes “Minto”, este é para mim um dos maiores viajantes e aventureiros de todos os tempos, autor da grande obra “Peregrinação” onde descreve detalhadamente as suas aventuras pelo oriente. Nasceu em Montemor-o-Velho e viria a morrer, quase na miséria, em 1583 no Pragal, Almada, onde se encontra esta estátua. Durante as suas viagens percorreu durante 21 anos as costas da Birmânia, Sião, Molucas, China e Japão, sendo que participou mesmo numa das primeiras viagens a este país, em que os portugueses introduziram as armas de fogo. Conheceu o missionário e viajante Jesuíta Francisco Xavier, o qual acompanhou em várias viagens de evangelização

Pêro da Covilhã

Estátua de Pêro na sua terra natal: a Covilhã
Estátua de Pêro na sua terra natal: a Covilhã

Vasco da Gama

Túmulo de Vasco da Gama no mosteiro dos Jerónimos em Lisboa
Túmulo de Vasco da Gama no mosteiro dos Jerónimos em Lisboa

Nasceu em Sines, Portugal em 1460 ou 1469. Celebrizou-se por ter comandado a primeira viagem marítima para a Índia em 1498, país onde viria a morrer em 1524 na cidade de Cochim. Os seus restos mortais encontram-se no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa.

Cristóvão Colombo

Estátua de Cristóvão Colombo na vila alentejana de Cuba, Portugal
Estátua de Cristóvão Colombo na vila alentejana de Cuba, Portugal

A origem de Colombo está envolta numa grande controvérsia. Embora seja geralmente tido como genovês, há historiadores que defendem que ele seria português, ou espanhol.

A ser Português, Colombo teria nascido em Cuba, no Alentejo por volta de 1451 e nessa vila portuguesa podemos mesmo encontrar uma estátua que invoca não só Colombo e a origem do nome da ilha de Cuba, como também nomes de outros territórios além-mar que foram baptizados por descobridores alentejanos.

Um dos importantes locais de passagem e permanência de Colombo em Portugal foi a ilha de Porto Santo no arquipélago da Madeira, onde viviam também familiares da sua esposa. Existem mesmo nessa ilha uma casa onde ele terá vivido.

Colombo foi um visionário que sonhou com o plano que mais tarde Fernão de Magalhães viria a conseguir realizar em pleno: chegar à Índia rumando a ocidente e provar assim a esfericidade da terra. A 12 de Outubro de 1492, depois de 5 semanas no mar Colombo chegou à agora Ilha de S. Salvador, nas Bahamas.

Túmulo de Cristóvão Colombo na catedral de Sevilha, Espanha
Túmulo de Cristóvão Colombo na catedral de Sevilha, Espanha

Morreria anos mais tarde em Valadolid, mas mesmo depois da sua morte viajaria de novo até ao “Novo Mundo”. Foram transladados várias vezes entre Hispaniola, Cuba e São Domingo, até regressarem à cidade que o viu partir: Sevilha. Hoje encontram-se num belo mausoléu na imponente Catedral de Sevilha.

João Gonçalves Zarco

Estátua de João Gonçalves Zarco no centro do Funchal, Ilha da Madeira
Estátua de João Gonçalves Zarco no centro do Funchal, Ilha da Madeira

Embora não se tenha tratado propriamente dum descobridor, uma vez que as ilhas já se encontravam referenciada há alguns anos, João Gonçalves Zarco, enviado pelos réis portugueses para patrulhar as costas do Sul de Portugal e as proteger dos ataques dos piratas da Barbária (actual Argélia), reconheceu a ilha de Porto Santo em 1418 e um ano mais tarde a da Madeira, juntamente com Tristão Vaz de Teixeira.

Rapidamente percebeu a sua posição estratégica para as explorações marítimas da costa de África que então se começavam a realizar e foi enviado pelo Infante Dom Henrique para proceder à colonização da ilha. Morreu em 1430 estando sepultado no Funchal.

Esta fotografia foi tirada junto a uma estátua em sua honra que se encontra no centro da cidade do Funchal, quando visitei a ilha da Madeira em Outubro de 2009.

Pedro Alvares Cabral

Estátua de Pedro Alvares Cabral na sua terra natal: Belmonte
Estátua de Pedro Alvares Cabral na sua terra natal: Belmonte

Pedro Alvares Cabral nasceu em Belmonte em 1467 ou 1468 e viria a celebrizar-se como descobridor do Brasil em 1500 durante a segunda viagem marítima à Índia.

Embora não haja certezas de nada acerca do que realmente se passou em muitas das viagens nesta época, Pedro Alvares Cabral terá desviado a sua rota para Ocidente quando descia ao longo da costa de África propositadamente por haver suspeitas de que aí poderia encontrar terra.

Recorde-se que já em 1492 Cristóvão Colombo havia chegado ás Américas mas mais a Noroeste. Assim, estas terras localizadas mais a leste da linha que separava os territórios portugueses dos espanhóis ficariam para a coroa Portuguesa.

A continuação desta segunda viagem à Índia foi desastrosa, tendo a frota perdido logo 4 navios numa tempestade depois de partir do Brasil. Uma vez na Índia, devido à concorrência que as viagens marítimas impunham sobre o monopólio árabe no comércio entre a Índia e a Europa, a frota portuguesa foi atacada pelos árabes, tendo ripostado contra estes e contra os próprios indianos levando à morte de centenas de comerciantes.

Monumento a Pedro Alvares Cabral em Santarém, Portugal
Monumento a Pedro Alvares Cabral em Santarém, Portugal

Embora inicialmente nomeado para comandar a “Frota da Vingança” à Índia viria a ser afastado desta. Morreu em 1520 tendo sido sepultado no convento da Graça em Santarém.

Jorge Sanchez

jorge sanchez viajero
Com o grande viajante Jorge Sanchez em Barcelona

Tive a honra de me encontrar pessoalmente com este grande viajante em Barcelona em Fevereiro de 2009 quando visitei a cidade.

O Jorge nasceu em 1955 em Hospitalet, Barcelona, e com apenas 13 nos, farto da escola, apaixonado pela geografia e o humanismo e inspirado pelo livro “mágico e perigoso”, o Atlas, deixou a casa dos pais e partiu para Marrocos, tendo chegado El Aaiun. Viajava sem documentos e foi por isso recambiado para Espanha.

Os pais pediram-lhe que esperasse até ter 18 anos para tirar o passaporte. Depois disso visitou todos os países do mundo e deu quatro voltas ao mundo.

O que o destaca de todos os outros viajantes e o coloca a meu ver até num patamar acima dos grandes viajantes da antiguidade, é ter dedicado verdadeiramente toda a sua vida ás viagens, a sua verdadeira paixão, abandonando todos os luxos.

É um homem do mais simples que pode haver. Financia as suas viagens com trabalhos temporários, muitos deles nos países que visita. Trabalhou em minas de Ouro na Bolívia, como contrabandista de Ginseng na Coreia do Sul, lavando pratos em restaurantes de todo o mundo, etc. Muito raramente dorme em hotéis: prefere os bancos do jardim, os aeroportos etc. Recusa-se a usar guias de viagem e nunca viaja com mais de 3kg de bagagem, incluindo o saco cama.

Dos locais mais perigosos e inacessíveis onde esteve destacam-se a floresta de Darien entre o Panamá e a Colombia, o estreito de Bering por onde realizou uma das voltas ao mundo e as grutas labirinticas de Jalalabad no Afeganistão, local onde esteve durante a guerra com a União Soviética ao lado dos Talibans enquanto eram bombardeados pelos russos.

Considera-se não um viajante mas um peregrino neste grande templo que é o planeta terra e nas suas viagens procura sempre o contacto com as religiões, tendo vivido algum tempo em mosteiros de vários credos.

Jorge Sanchez é autor de uma larga colecção de livros em espanhol onde relata todas as suas aventuras sendo o meu autor favorito e grande inspiração para a minha vida.

Recomendo uma visita ao seu site onde pode encomendar os seus livros: http://www.jorgesanchez.es/

Juan Sebastián Elcano

Estátua de Juan Sebastián Elcano em Getaria, Espanha
Estátua de Juan Sebastián Elcano em Getaria, Espanha

Foi esta a homenagem possível a um dos maiores viajantes da história da humanidade: Joan Sebastián Elcano, junto à estátua na sua terra natal: Getaria, no país Basco, Espanha, numa madrugada fria de Janeiro, a caminho da Holanda.

Elcano é provavelmente o viajante mais injustiçado da história.

Foi companheiro de Fernão de Magalhães na sua viagem de circum-navegação, mas ao contrário deste que não completou a viagem já que foi morto nas Filipinas, Elcano viria a ser o primeiro homem a dar a volta ao mundo, facto que não é recordado nos livros de história.

Fernão de Magalhães

Casa onde terá nascido Fernão de Magalhães em Sabrosa
Casa onde terá nascido Fernão de Magalhães em Sabrosa

Fernão de Magalhães é o mais famoso dos navegadores portugueses além fronteiras.

Quase certo é que nasceu no Norte, muito provavelmente em Sabrosa. Foi nessa cidade que tirei estas fotografias. Há uma casa, que é supostamente onde ele nasceu, e um monumento em frente à câmara municipal apresenta o pequeno Fernão a brincar com um barco, como que a antever o que o futuro lhe reservava.

No entanto cidades como o Porto, Vila Nova de Gaia e Ponte da Barca reclamam também o seu nascimento.

Monumento a Fernão de Magalhães menino em Sabrosa
Monumento a Fernão de Magalhães menino em Sabrosa

Certa é a grandiosidade das viagens empreendidas por ele: Fernão de Magalhães partiu em 1505 para a Índia, na armada que viria a colocar D. Francisco de Almeida como primeiro vice-rei das Índias e aí ficaria  por alguns anos participando em batalhas e expedições pela região.

Em 1517 consegui o apoio do rei de Espanha para organizar uma viagem para Ocidente. A ideia era chegar às Molucas contornando o planeta, de forma a contornar o território atribuído a Portugal no tratado de Tordesilhas.

Estátua de Fernão de Magalhães em Sabrosa
Estátua de Fernão de Magalhães em Sabrosa

Em Setembro de 1519 partiu com 234 homens em 5 navio, e em Novembro do ano seguinte a frota, já com 1 navio a menos realizaria o grande feito da viagem: dobrar o continente Sul Americano, pelo estreito que viria a ter o seu nome.

A 7 de Abril de 1521, já depois de cruzar o Pacífico, Fernão foi morto num combate numa ilha das FIlipinas. A expedição regressaria à Europa comandada por Juan Sebastián Elcano, apenas com 18 do 234 homens que haviam partido.

Diogo Cão

Estátua de Diogo Cão em Vila Real
Estátua de Diogo Cão em Vila Real

Há várias hipóteses para o local de nascimento de Diogo Cão, sendo Vila Real um desses locais, cidade onde se encontra esta estátua ao navegador.

Já quanto à sua carreira não há qualquer dúvida da importância das suas viagens para os descobrimentos portugueses.

Realizou duas importantes viagens de exploração da costa africana em 1482 e 1486, tendo chegado à foz do rio Zaire e subido este pensando que seria possível por aí contornar África.

Viria a constatar que isso não era possível ao chegar às cataratas de Ielala, onde deixou gravada a inscrição da sua passagem num rochedo.

Ibn Battuta

Junto ao túmulo de Ibn Batouta em Tanger, 2022

Nascido em Tanger em 1304, Ibn Batouta é um dos maiores viajantes da Idade Média. Em 1325 partiu com o objectivo de peregrinar a Meca. O fascínio pelo Mundo que fui descobrindo ao longo da viagem levaram-no à Síria, Pérsia, Rússia, Ásia Central, Índia, China, Filipinas, Somália, entre outros.

Regressaria a casa 29 anos depois para partir ainda para a Andaluzia e para uma grande expedição pela África Ocidental, com passagem pela lendária Timboctou.

Morreu em 1369 e está sepultado na cidade de Tanger. As suas viagens totalizaram 120 mil quilómetros, três vezes mais que o não menos famoso Marco Polo, nascido poucos anos antes.

Guardar